quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Tombo



Buenas Indiada!
Vou contar para os amigos, uma camperiada que fiz em Itapuã a mais ou menos uns 14 anos atrás e acho que vale a pena contar.
Numa bela manhã, a data não me recordo, estava eu terminando de fazer a minha refeição matinal, quando se chegou em minha chopana dois amigos me convidando para uma gauderiada. Tratava-se de recolher alguns bois e vacas que tinham saído do campo e estavam na beira da estrada. Nesta época, eu estava com duas éguas na cocheira, uma Tubiana com 10(dez) anos e uma Zaina Negra com idade de 5(cinco) anos e batizada de “Xalana”. “Xalana” por se tratar de uma égua nova e apoderada na bóia, era muito forte, ligeira, tinha os movimentos muito rápidos, e em todas as vezes que tinha feito outras lidas, mesmo tendo o controle do animal, senti que faltava alguma coisa para que se firmasse a parceria perfeita. Após ter recebido o convite, fui rapidamente até a cocheira e encilhei a Zaina, saímos a trotezito e nos dirigimos até o local indicado por um dos amigos onde se encontravam os animais fujões. Chegando lá, iniciamos a condução dos animais até a cancela que dava acesso ao campo. Durante o percurso, cruzou pelo meu caminho e de “Xalana”, uma cobra “campeira”, espécime muito comum nos campos de Itapuã. A égua assustou-se com a “campeira” e num movimento ligeiro, virou-se para a esquerda, e o pequeno peão que escreve este história, ladeou o corpo para a direita. Naquele momento, coloquei de vereda em minha mente:
- Não vou fraquejar para essa tirana, vou ficar no lombo deste animal.
A desgranida iniciou um redemoinho virado para a esquerda e para melhorar a minha situação, saiu num velhaqueio loco muito do brabo. Saímos neste choro a campo fora em um curto espaço de tempo, pois fui traído por uma rédea que arrebentou e pela força da Zaina. Vencido pela tirana, plantei a figueira naquele bombo verde, de tal forma, que cheguei a quicar. Levantei-me, bati a polvadeira das bombachas, camisa e sombrero e enquanto realizava limpeza da farda, meus cumpadres gargalhavam do dendel que tinha se sucedido. Depois de ter me recomposto, fui ao encontro de “Xalana” que estava a uma distância de 300 passos largos de mim, aproximando-me dela, reparei em seu semblante, mais precisamente em seus olhos, que estava a me mirar com um “ar” de respeito. Alisei o pelo grosso do pescoço negro e larguei uma fala bem revoltada:
- Me venceste né marvada?!.
Improvisei o concerto da rédea arrebentada, montei na Zaina e continuei na lida junto com meus cumpadres. Logo após o término do dever, voltamos a chopada para descansar a carcaça. Depois daquele dia, reparei que a relação entre “Cavalo e Homem” ficou mais forte, parecíamos um Centauro, não precisava cutucar nem levantar o relho para que “Xalana” obedecesse meus comandos, a tirana sabia exatamente o que tinha que fazer em cada lida. Acredito que o detalhe que faltava para obter o sucesso total de entendimento entre eu e “Xalana” era o Tombo.

Escrito por Kadu Teixeira na data de 14/07/2011.

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